mulher mitológica, mulher real.

Fellipe dos Anjos
3 min readFeb 4, 2021

em homenagem à minha companheira jessika, por ocasião do seu aniversário

[Mordecai and Esther — Jewish Mythology]

como você — [jessika] (e vocês, amigos e amigas leitoras) sabe, eu gosto muito de religião, mitologia, espiritualidades, essas coisas. e, uma das questões que mais me instigam no belo e complexo universo dos mitos é a presença de mulheres fortes.

lá, nos mitos mais fundamentais, não nessas narrativas embranquecidas e masculinizadas do ocidente capitalista, mas lá, onde o sagrado é selvagem, intenso e pulsante, há mulheres soberanas, mulheres criadoras do universo, mães de deuses, escravas que lutam pela liberdade, amaldiçoadas que subvertem as palavras de maldição, destruidoras de demônio, rainhas poderosas, juízas estrategistas, profetizas carismáticas, guerreiras valentes, agricultoras cuidadosas, artistas assombrosas, sacerdotisas líderes, escudeiras habilidosas, todas extraordinárias, deusas de vários tipos.

há protagonismo feminino,
intervenção decisiva de mulher,
nas mais diversas realidades da existência humana.

deusas, míticas, sobre — naturais.

[Miriam — Dance of the Liberation]

e, diferente do que a nossa mentalidade racionalista espera, elas, as mulheres mitológicas, são e podem ser tudo isso, não porque são magicamente privilegiadas, mas, ao contrário: elas constam desta forma impactante no quadro das mitologias fundantes justamente porque são REAIS; porque são elas que atravessam a realidade e a excedem com coragem, criatividade e poder.

as mitologias não mentem.
não são racionalidades inferiores.
elas ficcionam,
fabulam,
espetacularizam,
magnificam,
hiperbolizam,
especulam;

mas tudo a partir de um substrato real e acontecimental.

se está no mito é porque testemunha uma realidade comunitário, uma forma de produzir, ver e viver o real. essas imagens mitológicas, em alguns sentidos arquetípicas, testemunham a realidade das existências-de-mulher e não apenas supostas utopias religiosas.

são testemunho, tradução e desejo, ao mesmo tempo.
sonho, revelação e realidade. juntos.

essa é a mulher mitológica, a mulher real do hoje, que escreve sua própria história com coragem e criatividade, subvertendo estruturas ancestrais de opressão. essa é a mulher mitológica, a mulher real, que cria mundos e muda os nossos. a mulher mitológica é aquela que jamais será esquecida por ter feito do mundo um lugar de decisão, esperança, alegria e salvação, apesar dos demônios patriarcais.

a mulher real é a mulher mitológica.
não a mulher-objeto, não a mulher-dócil, não a mulher-frágil.

o mito é da mulher real: que faz o mundo acontecer, sem a qual tudo que existe ruiria e, em nome, em reverência e em memória à qual nossos melhores mitos contam, cantam e louvam. Nu Wa, Bastet, Nix, Ishtar, Cibele, Tefnut, Amaterasu, Ela, Freyja, Isis, Lilith, Eva, Deborah, Gaia, Kali, Atena, Tiamat…mulheres realmente mitológicas.

hoje é a aniversário da Jessika, minha companheira e esposa.

aniversário de uma mulher real:
que faz a vida acontecer com coragem, criatividade, força e amor.

uma mulher real, uma mulher mitológica.

com esse meu conto, quero cantar seu feitos
com esse meu feito, quero louvar sua existência
fazer memória do assombro apaixonante,
do amor que é ver você viver o real —
e vivê-lo contigo.

sou testemunha.

como diriam os antigos,
meus olhos viram,
meus ouvidos ouviram,
minhas mãos tocaram
a glória da eternidade
entre nós,
em amor de viver com você — .

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