Fellipe dos Anjos
3 min readJun 19, 2021

--

hoje faz um ano
que eu operei o quadril esquerdo
no meio de uma pandemia de coronavírus.
a cirurgia estava marcada para março.

por causa da pandemia, foi adiada,
bem como muitas cirurgias eletivas pelo país.

minha cirurgia já não era tão “eletiva” assim.
eu já não aguentava mais arrastar a dor,
efeito de uma sequela da enfermidade Legg-Calvé-Perthes,
uma doença com a qual eu convivia desde os 09 anos de idade
e que me deixou de “presente” uma artrose bilateral de quadril.
neste cirurgia, no meio da pandemia,
eu colocaria uma prótese total no quadril esquerdo
e a promessa era que a dor chegaria ao fim.

claro que, em razão do contexto,
dos riscos inerentes à cirurgia,
das muitas incertezas a respeito da covid-19,
da falta de dados científicos consolidados*
de como o vírus impactava o sistema imunológico,
foi muito difícil tomar essa decisão.

um sofrimento profundo para decidir:
fazer naquele tempo ou aguardar a pandemia passar?

“pandemia passar”
sim, nós pensamos nisso.

claro, já sabíamos que estávamos vivendo
num país genocidas negacionistas e
que eles fariam de tudo para que a pandemia
destruísse a maior quantidade de vidas possíveis,
exatamente como fizeram e ainda fazem.
esse fato faria a pandemia durar muito tempo ainda.

como fazer?
como fazer para continuar prolongando a dor?

parênteses:

tudo é político numa pandemia, percebeu?

um cirurgia de quadril
pode estar sendo afetada
pela forma como a pandemia é gerenciada
e alguém pode estar sentindo dores terríveis
porque não tem condições de fazer uma cirurgia
num contexto de 3 mil mortes/dia.

quem responde por isso?
quem responde por este sofrimento?
quem prolonga esse sofrimento?
quem são os responsáveis por permitir e trabalhar para
que a morte evolua e a dor permaneça?

fecha parênteses.

foi uma loucura.
tive medo. muito.
medo de morrer.

quando o médico falou dos riscos
de se pegar a covid-19 recém-operado,
foi muito difícil administrar aquilo tudo
que estava acontecendo na minha cabeça.
muito. acho que até hoje é.

tive medo. muito.
medo de morrer.

demorei um pouco,
uns dias,
para decidir.

mas, graças a Deus
que a gente tem amigos e amigas
e que Jesus revela
palavras ao nosso coração.

jessika foi fundamental e,
uma vez mais, como em tantas antes,
decisiva.

tomei coragem
e fui.

neste post não cabe tudo
que eu gostaria de dizer
sobre este processo.

vou sintetizar o mais importante:
gratidão aos amigos e amigas
que me deram suportes diversos
para atravessar essa etapa da jornada.

como diziam lá no Rio,
quem é, sabe!

foram vocês mesmos,
meus amigos e amigas,
que tornaram essa
“passagem” possível

antes
durante
depois

vocês fortaleceram
minhas pernas.

gratidão, jessika,
meu amor.
sem você
a vida não resiste.

um ano se passou.
ainda estou vivo.
meu desejo é ficar vivo.
por muito tempo.

vencer a cirurgia,
vencer a pandemia,
vencer o presidente genocida,
vencer o diabo
e ficar vivo por muito tempo.

para ver Lara crescer
para ver Jessika crescer
para ver meus amig@s crescerem.
ficar vivo por muito tempo.

para isso,
temos que nos cuidar.
temos que vacinar.
temos que derrubar o genocida.

temos que construir outro país:

onde pessoas que precisem
de vacinas e de cirurgias
não fiquem abandonadas
aos seus medos e dores.

--

--